Tua visão escurece. Que solidão. O arrepio medular de quem vive só. A assombrosa quietude, e, sem a visão: o inferno. Sobrará para tua fase sensorial agora apenas a tua pele exposta com seu tato e oufato aguçado.
Os trilhos de um tunel completamente abobodado com teu liso perfeito e mortal. A escuridão e viscuosidade da pedra preta, que atravessa a montanha molhada em num recorte.
O trajeto grave é longo, nele sentiremos o teu destino: onde o peso do vento se acentua? Vivo agora nesse emaranhado sem fim?
Vigas cerradas seguiam no trajeto. O cheiro embaraça meu labirinto, como um cérebro aguçado por drogas.
Te encontro nos meus espasmos lúdicos e tento te fazer perguntas, mas sou iludido para não entende-las. Até quando continuarei sem enxergar?
E quando quase começo a ver alguma luz, crio em mim muitas barreiras. Estas, por vezes, me chutam como feras felinas que cospem nos meus braços com seus sermões poéticos.
Aventura, chegaste então, toda hora? – sim, nota como o meu som soa quadrado? Há um princípio de retorno auditivo, e reparaste isso só quando autorizei o ato.
Vigente em tua cruz, nunca te vi de outra maneira. Teu fardo pesa, e tua armadura é ligeira. Desarma-te!!! Tua coragem não fincou lá atrás. Esqueces-tes de onde viestes.
Estique esse pé, criatura.
Cocei meus cachos. Há em mim, agora que volto a enxergar e também ouvir, um meio lamaçal que escorrega como um soar de leitura.
Grite, teu cais o espera agora.
Conecte com sua natureza…
Tens esta possibilidade mais do que o normal que há em todos, o que já é muito: este é o teu dom, pisciano de alma.
Fugaz.
Igor Florim