Na praia tudo era aberto. Era este o lugar em que todo o mundo se descobria. Continente adentro numa curva que só força (temos que pensar): algo começou a existir. Um poço de muita racionalidade… quase um impeditivo pro que transpassa. Velhos significados e muito pó que deixa áspero, lembrança da areia quente, água de coco, sombra e só mira – deixou ele seguir pra longe. Apenas um rumo. Corta, queima, esquenta até a alma. Tudo estava começando mesmo que ele mal soubesse de todo o mau. Mas na praia, só ria.

Foi entrando, seguindo bem no meio do caminho. Muita visibilidade, poças de uma chuva inacabada, perigo constante e alto mar. Se permitiu… soltou os braços e parou de se sustentar. Pela primeira vez sem nenhuma defesa, nada que desse força ou impedia o caminho que sempre se dá. Foi o momento em que não se defendeu, abandonou todos os pesos, incluindo o dos ombros. Ficou tão leve que, ao invés de afundar, boiou. Usou a oportunidade para se movimentar com grandes passadas. Ele iria pra bem longe no mar.

A praia, agora era mar e tinha seu tamanho próprio. Nela que tudo acontecia submergindo passados em vão, afundando antigas memórias e tudo foi ficando limpo, pouco sal e muita água. Se soltou do que o deixava leve. Pensou que fosse desaparecer mas agora tinha consigo um voo deslizando livre no ar. Só vento, sereno que suspira, orvalho que cai e o peixe só escorregando nas suas asas. Sempre em frente… A praia que avançou pro mar e não o deixou mais afundar. Subindo voo virou céu. Todo azul.

Ele não acreditava. O céu agora serviria (entre voos, deslocamentos e a cabeça nas nuvens) como ápice para uma queda. Peso que afunda, leveza que não se sustenta, chumbo que cai. Cai e cai sem dó. Pro meio da terra, racha, perfura e deixa buraco. Uma bela cratera (das que ficam pra sempre). Respirei. Este era o inacreditável da vida. Por medo, nem pisei na areia. A praia não ajudou o mar que afundando por causa do céu não segurou o peso alheio. Nenhum peixe na praia. Ainda bem que não me molhei.

Igor Florim

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