No tempo dos segredos muita coisa se escondia no porão, quase como um furacão doméstico, esquecido e completamente afastado do convívio humano daquela família
Longos corredores que levavam à lugar nenhum, pessoas perdidas dormindo no chão e a louça toda suja pra lavar: a casa estava viva como nunca antes
Chamaram a atenção alheia
Do outro lado de toda essa vida, a morte e reclusão do porão pensava em se expandir pro sótão também, na expectativa de ser maioria na casa que prosperava em viver
Grandes e velhos móveis poderiam vir a ser esconderijo pra mais dessas criaturas que saíram do porão e se expandiram pro sótão e outros cantos sujos e escuros
Ninguém entendia essa aproximação em massa. Era um cenário que se transformava enquanto viviam felizes, a casa parecia precisar de ajuda
A casa, na realidade, era a vida daquelas pessoas. Tudo aquilo era um belo equilíbrio que prometia estar corrompido e corrupto em pensamento, negatividade e força
A força (com X) prometia levar para os belos corredores e salas de madeira polida, o caos e a definhação de tudo o que era bom e soava como uma risada em família
Dos risos que nunca esqueceriam, cabia para essas lembranças os ansejos daquela família que enfrentava sem saber, todo o mal do mundo
Faca de ponta
Baioneta afiada
Perigo constante
Resolveram num momento de desespero e falta da vida que sempre existiu entre eles, fechar os olhos para então juntos transpassar toda a aflição
Sem querer voaram
Eram agora novamente livres pra sorrir e viajar. Não planejaram nada, apenas sentiram no âmago do desejo, que eles deveriam seguir juntos. Ninguém voava sozinho
Essa mudança foi necessária. A casa foi dominada e eles nunca mais olharam pra trás! Sem nem pensar no que deixaram lá, afinal o que lhes dava vida, vivia junto e voando
Lá do alto, a brisa do vento trazia mais respostas do que a agressão do porão (agora sim alheio). Foram se instruindo entre mãos que não apertam e braços que não prendem
Se libertaram
Voaram cada vez mais alto
Nunca mais pisaram no chão
O dia ou a noite era na verdade, uma conversa com os astros. Todos vivos, iluminados e fortes. A força que chegava era combustível pra acordarem leves e em pleno voo
Os dias agora eram assim
O passado é uma roupa que não serve mais
Gritaram juntos um longo: ADEUS. Que marcou um ponto final para o tempo dos segredos.
Eles conseguiram
Seguiram voando cada vez mais alto.
Igor Florim