Das coisas que permanecem mesmo quando tudo se vai, te encontrei perdido num mundo de vazios sem significados próprios. Ao te ver andando pro que era em mim um mundo inexplorado, até pensei em te contar tudo o que vinha machucando, como um alívio por finalmente encontrar o caminho até você – depois de tanto ser confundido pelos outros, mas essas eram as andanças que me arrastariam pra uma nova viagem quando muita coisa insistia em ser apenas lembrança e saudade do que nunca sobrou: isso tudo poderia ser o bastante pra me fazer ficar.
Doeu, doeu bem dentro. Hoje sinto no meu estômago tudo o que se embrulha durante as madrugadas, como se fosse mais uma vez te encontrar nos mesmos lugares em que já te deixei. E quanto a mim que só escapava dessas fortes dores, algo em você te atraia para a surpresa de virar o meu mundo de cabeça pra baixo até eu precisar sair correndo outra vez por ser difícil demais lutar contra a maré. Nesses momentos, a dor que era só no estômago fritava a minha cabeça e cogitava regurgitar todo esse passado corrompido para fora.
Tudo pra fora
O lado de dentro permanecia com suas fortes dores… era como um abandono próprio ou uma necessidade de libertação. Tudo tava errado. E sempre que eu te via pensava novamente em tentar te falar mas não era o bastante pra me atravessar em coragem ou possibilidade de ser assim: frágil, sentimental, bonito e da mais forte sinceridade que já existiu. Foi muito difícil. Quando tudo parecia desabar, me vi te esperando aparecer, como um novo empurrão que me deixaria forte outra vez ao te doar toda a energia de vida que carrego comigo.
Esses foram os dias em que com a garganta amarrada, suspirava em silêncio por não ser escutado. Se alguém ousasse aparecer, escutaria dentro dos meus olhos todo o som que soava a dor de não viver bem. A bem da verdade, tem sido uma fase muito difícil essa de agora. E mesmo não sabendo onde vim parar, os dias se seguem como um tsunami que destrói pra só às vezes vir me presentear com ondas leves de raras noites pra quando não, arrastar pra fora o que era imóvel dentro de mim, deixando só restos de coisas que demorei tempo demais pra defender.
Com essas invasões, acabo sempre soltando tudo o que seguro firme pra encarar a luta do novo dia, quando as forças se libertam pouco a pouco só pra desaparecer do meu domínio. Este foi o perigo de te encontrar… o de me ver partir. Tenho acordado muitas vezes durante a noite… ainda em silêncio. É quase um pequeno ritual o de abrir os olhos, não mover o corpo e apenas pensar enquanto imagino ver detalhes na luz pra conseguir ignorar todo o escuro do meu breu. Fundo, inacessível e desistente. Fui me tornando outra pessoa.
Numa dessas tentativas, vi você chegando pra me ver. Parecia a coisa mais irreal possível mesmo quando a fila se formava nas fotos e aparências vãs que eu finalmente desistia pouco a pouco de reforçar. Era algo mais alto que tudo isso… era você sem a maldade que me causava medo… era o seu olhar procurando o que se escondia dentro de mim, até encontrar as belezas que insistiam em sumir. Foi tão forte que não acreditei. Aquele dia, diferente de todos os outros, eu consegui chorar mesmo não estando sozinho. Foi assim que tudo se lavou… e depois de limpo e seco, abri os olhos e você ainda estava ali, parado.
Me olhando
Roubou meus medos e levou pra longe
Me salvou de muita coisa
Ainda iria retribuir com muita força
Das dívidas que nunca esqueceu
Agora sim tudo se acalmava.
Igor Florim