Houve um tempo
Tudo parecia ter se aquietado pois som a som, deixamos de ouvir
Respirei… abri gavetas, vesti novos sapatos, troquei de roupa mil vezes e tudo em mim ainda insistia em não ouvir absolutamente nada
Depois de tanto silêncio, resolvi me perder
Das coisas que só o tempo vem dizendo
Foram dias dedicados à lugares bem diferentes. Precisei parar de me espantar com o que ficava pra trás quando alguma novidade vinha em vazão ao meu encontro. Deixei de me agarrar em muitas coisas e quando notei, desde que paramos de ouvir, nunca mais nos encontramos
Eles não podem saber
Depois desse dia algumas outras coisas também mudaram. Tudo o que era silêncio ou vazio, virou um mar de possibilidades – das que enchiam nossos olhos. Fui um à um, mesmo sozinho, salvando do oceano essas coisas que tinham tanta força pra ser tanta coisa, mas que ficavam lá: à deriva. O resgate foi bem lento e quando terminei percebi que eu era outra pessoa
Mas acordei sozinho
Às vezes alguém me ligava mas na talvez maioria das vezes, nem cogitava atender
A tal da solitude talvez fosse se tornando solidão dia após dia… e do mar que por ter tanta força espantava de canoas à muralhas, se tornava agora um rio calmo perdido. Afastado. Sozinho
Agora tinha a sua vida pra cuidar. E de vez em quando, mergulhava bem profundo
Mas talvez tenha morrido na praia
Por não se agarrar em ninguém.
Igor Florim