
Me perguntaram – o que faremos com os que ficaram para trás?
Não pude dizer outra coisa a não ser
Iremos atrás de todos nós
Todos os que são desse lugar mas se perderam pelo caminho
Não dormiríamos naquela noite
O frio lunar cortando meu rosto
Vento gelado nos ouvidos
Será que estão esperando por nós?
A resposta está dentro de ti
Se fosse tu, esperaria?
A magia da vida é não exitar em agir quando é seu momento de ação
E todos sabemos dessas coisas, todos sentimos essas horas
Alguns do nosso bonde, vieram em silêncio
Acho que estão incomodados em agir justo agora, que acabávamos de chegar na nossa casa, no nosso templo
Eu esperava encontrar todos vocês lá dentro
Mas alguns se perderam antes de chegar
E correm riscos profundos agora que o mundo espiritual está desabando
As guerras chegaram até nós
No meio do caminho eu não aguentei mais o silêncio
Estou cantando uma canção que todos nós conhecemos
Na expectativa de que os mais calados, floresçam em som e prosa
Essa é a luta da vida, agora que tudo desaba aqui fora
Soltar a voz
Dar vazão em outras coisas
Talvez os mais silenciosos neste holocausto todo, não exitem ao canto
E ajude esse coro de artistas
Mas alguns se calam
Fingem não ouvir
Quando percebemos, outros de nós ficaram para trás
Se perderam também
Eram os mais calados dessa noite
A guerra assusta
Deveríamos entrar em quarentena, talvez só assim estivéssemos seguros o bastante. Restaram uns dez de nós, todos iguais mesmo que pessoas próprias, com seus respectivos nomes e talentos… mas não conseguimos esconder esse tipo de coisa
Quem nos conhece, sabe de onde viemos
E temos isso em comum
Encontramos alguns dos nossos que se perderam inicialmente
Abatidos
Caídos no chão
Sem força para o movimento
Perguntei se estávamos fortes para protegermos os nossos irmãos e sem exitar, levamos eles nas costas
O caminho é longo
Não conseguimos carregar ninguém além dos que resgatamos
Pernas atrofiando
Peso nas costas
Pedimos uma pausa – paramos. A noite é linda, mesmo nessa temperatura glacial. As árvores estão morrendo aos poucos. Nossos amigos mais um pouco também morreriam pelo chão gelado
A queda foi feia
A gente nunca espera esse tipo de coisa
Imagine se não saíssemos imediatamente para busca-los
Seria tarde demais
Sem perceber, a gente congelou junto
Acho que foi um resquício da falta de vontade em ser luz
O vento chegou cortando
Era uma multidão de almas violentas
Esse é o último inverno deles por aqui. Então estão agindo com toda a vivacidade que lhe restam
Até a última gota congelar
Quem sobreviveu, conta essa história
Mas nós, morremos. Ninguém restou para continuar contemplando a noite durante aquele descanso no meio da caminho
Porém nada mudou
Na realidade, tudo ficou muito bem
Talvez as almas agressivas fizessem também parte da luz
O mundo transpassou
Todos conseguiram
Depois da nossa morte, finalmente chegamos em casa. E haviam camas para arrumar e colchões para espalhar pela casa
Todos vão dormir quentinho
Embora a noite já se encarregou de sua própria transformação
O clima é outro
Tudo bem caloroso
Nós somos uma família de amigos
Olhando um nos olhos dos outros
Não acreditamos que a vida era isso
Aquela ilusão fazia tudo parecer frio, agressivo, caótico
Alguns se perderam violentamente no trajeto
Mas nós mesmo caindo, chegamos no lugar certo
Era essa a revolução
Transgredir
Superar
Agir
Agora estão cantando o tempo todo
Eu quero dormir, já disse
Mas não parem de cantar
Vocês são anjos agora
Soem todo o vigor de suas almas em belos versos melódicos
Criativas criaturas
O mundo deve ter virado ao avesso
Os pólos magnéticos talvez se inverteram
Fez o planeta continuar a mesma coisa – mas de outro jeito
É como vocês que soam essas notas e ocasionalmente sobem uma oitava
A nota continua a mesma, porém bem mais aguda
Gritos pela rua
Me levantei, acho que não é hora de dormir
Porém essa é a causa deles, já que não sabem cantar
Usam esse método para subirem seus berros ao vento
Estamos falando das mesmas coisas
Jamais irei exaltar aqui, coisas que me agradeceram ou elogiaram neste momento. Não me cabe. Apenas observei a nossa libertação. Eles conseguiram. Nós fomos além
Nunca duvidei de vocês e quando se perderem, irei imediatamente me perder também
Quem sabe numa dessas próximas guerras, nós é que sejamos o vento
Cortando as verdades nos ouvidos sujos dos outros
Soando como a música
Precisam escutar. Sinto muito mas apenas falar preconceitos já não é o bastante
Eles irão escutar tudo em dobro
E falar bem pouco
Mas na hora certa
Até lá, se perdem por aí
Eles é que são a guerra. O mundo espiritual é o que eles emanam disso tudo
É coisa de outro mundo se perder
Obrigado, amigos. Vencemos a última guerra
E agora que estamos prontos, vamos dormir
Sonhar
É assim que era pra ser
Este caos todo
E passou
Deixe que gritem lá fora, boa noite. Durmam bem nessa primeira noite da vida. Mal acredito que tudo isso aconteceu
Renascimento puro.
Igor Florim