
Todas as noites daquele sertão era a mesma pergunta ao olharmos pro céu
É jiboia ou boi azul?
Parece que pouco importa quem sobrevoa essa região, só querem saber de bençãos e colheita farta
É pra isso que querem as energias da mata alta
Mas saudar a lua
Ou se mover na força ritualística
Isso ninguém quer
Se houvesse uma loja para buscarmos a colheita toda feita e apenas comer, sem plantar, sem energizar, com certeza faríamos
O mundo deve ser todo assim, essa calmaria toda
E dizemos que deve ser porque não conhecemos nada além da nossa utopia
Somos os donos da verdade
E o que sabemos é o que nos contam
Um dia chegou um moço de fora e ficou três noites aqui na aldeia, na primeira ele contou que antigamente havia um outro mundo em baixo das índias e que de lá muito se criou
Até que o mar acabou com lemúria
Isso faz mais tempo do que o próprio tempo
Na época tudo era diferente
Depois reapareceram os arianos nos altos montes asiáticos e outros povos que voltaram para as índias na expectativa de tudo recomeçar
Mas falharam incansavelmente na missão
Repetindo a tentativa até hoje
Na segunda noite ele contou do mundo perdido da atlântida e de como tudo ficou submerso no mar. Lá no meio das américas
A europa ligava os dois lugares. Platão ou os antigos indianos sabiam muito bem que de tempos em tempos eles vinham voando ou navegando e nos mostravam sua mágica ancestral
Eram diferentes
Os senhores das estrelas
Voando no seu próprio fogo estelar
Se diziam sabidos então tramavam acabar com tudo porém o mar foi mais rápido. Depois de uma estrela que caiu do céu as ondas fizeram tudo mudar e em menos de um dia todo o gelo derreteu
Muita fumaça
Salve-se quem puder
As águas dominaram essas almas
Perdidas no meio das américas
E no terceiro e último dia ele nos fez pensar
Por que diabos tem boi voando nessa mata? Ou jiboia lunar atravessando esses campos?
E nós só querendo saber o que receberemos com isso tudo e que de preferência, nos sirva nas nossas bocas
São esses os deuses que merecemos
Já que chegamos até o presente, superando os lemurianos, arianos, atlantis e qualquer europeu barato ou outros povos que se contam por aí, fomos nós que chegamos até essas terras e até esse futuro, então nada conseguiu nos superar até hoje
O homem ouviu
Parou de falar
Na manhã seguinte a jiboia desceu e ele subiu. Gritamos para que todos vissem aquele absurdo
Choramos
Suplicamos
Jogamos pedra
Mas nada a fez parar
O homem foi para as estrelas
Ninguém nunca mais viu a jiboia ou o homem
Por que ele e não nós?
Logo ele, um homem andante, que corre atrás de novos horizontes… nós estamos aqui há muitas e muitas gerações. Parados, acomodados, esperando esses deuses descerem dos céus
Mas nunca descem
Só passam sobre nós indo sempre para o sul. E a gente parado, esperando, exatamente como deve ser
Nós merecemos!
Nessa noite fizemos uma grande festa. Na expectativa de agradar o boi azul mas quando ele passou, ignorou a nossa existência e desceu para o sul
Essa foi a última vez que vimos esse tipo de coisa
Ninguém ousa ir para baixo atrás desse ou de qualquer outro Deus
Ficaremos aqui
Eternamente cansados
Esperando um deles descer do céu e vir nos amparar
Ou a humanidade evoluir o bastante para ignorarmos essas manifestações celestes. Esperando surgir as cidades, as lojas e os empregos para trocar nossas vidas por isso tudo, esperando um dia algo cair lá de cima e resolver nossos problemas
Mas enquanto não cai…
Não sairemos daqui
E viva a jiboia antiga e o boi azul ancestral!
Ai de quem falar mal desses dois
Estamos aqui como provas vivas do passado em que eles existiam e falaremos em seu nome, matando quem não aceitar a palavra
Afinal
Existe alguém mais especial do que o nosso bando daqui do sertão na beira da mata alta? Com certeza não
Na terra quem manda é o homem
E nos céus quem dita são as deusas
A rainha jiboia
E o boi azul, feminino como a noite
Já nós, somos tudo de melhor que existiu até hoje
Mesmo nessa confusão de passado, presente e futuro
Somos tudo isso junto
De tão superiores que nos tornamos
Com a barriga cheia
E o bucho inchado
Fomos os sobreviventes de tudo o que já passou. Nada conseguiu nos superar
A nossa fé aterra nossos pés e uma coisa é fato: daqui ninguém quer sair
Embora a jiboia e o boi azul saíram…
Mas enfim. Outra hora pensamos nisso. Ninguém vai questionar coisa alguma nessa aldeia. Fogo em quem duvidar!!!
Somos os donos da terra
Salve-se quem puder.
Igor Florim
Demais! folclore total, realidade total, bom conto com referências atlântidas
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obrigado! que bom que gostou! às vezes gosto de explorar esses assuntos e tbm expressões folclóricas! obrigado pela leitura
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Você compartilhar e divulgar meu trabalho, por favor?
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Pouts
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Oie Sumido
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gostei muito do bucho inchado, quase no final do texto.
descobri não sei como tua formação, teatro, dança, canto………castings, odiava fazer, mas fiz tudo isso a pelo menos 45 anos atrás. Ah, as artes, ou puta artes. outro dia me veio na cabeça num texto, que pintura é isso, arte escrita. no teu acrescentar, escrevo, bordo, costuro.kkkkkkkk
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olha só que coincidência! heheheh bordar e costurar é algo que já tentei aprender mas abandonei logo em seguida… quem sabe um dia! rsrs obrigado pelas palavras!
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