Eu queria dizer algumas coisas ao mundo

E agir com muita naturalidade para quebrar específicos tabus

Mas por vezes não faço

Pelo simples motivo de não quererem ouvir ou resolver problemas

Então eu fico lá

Observando esse mundo e suas pessoas

Essa noite não vai acabar

E existo nela com um nó ocupando a minha garganta

Ele me arrebenta

Espreme

Esmaga o meu maior orgulho – a voz

E de fato não tenho nada para dizer nesse momento

Digo, eu tenho muito para falar mas não agora

Não aqui

Querem apenas rir de piadas toscas

Se dedicar ao vazio para numa dessas, se tornarem vazio também

E existem assim, com pouco esforço

Nunca irão parar para pensar sobre si

E sei lá… talvez eu gostaria de contar coisas genuínas que eu sinto… mas desisti disso ainda bem mais jovem

Fui falar em outros lugares

Mas neste, apenas o meu silêncio

E me olham

Talvez eu os agrida

Afinal mesmo na mais absoluta quietude, falo coisas

E eles sabem do que eu falo

Mas escolhem repetidamente essa mesmice de si

A vida real não oferece férias, você sabe disso né?

Ela quase não acaba

Fica existindo assim

Sem cessar

Sem respiro

Você morreu, minha filha? Assim, subitamente?

Me sinto num oceano

E as correntes d’água me levam para o fundo

Meu corpo todo cansado

Estico os braços, nado, subo, mas sempre estou lá – na água

Respirando

Para mim o mundo é isso

Esse oceano

E eu no meio

Cansado

Nadando

Sobrevivendo num ambiente que não é o meu

Mas sou forte. Vocês sabem disso…

Enfrento ressacas, me transformo em tsunami, devasto continentes inteiros

E no final das contas a noite ainda não acabou

Olho para o lado e ainda falam a mesma coisa

Eu queria profundamente afundar

Mas em ti

Ocupar o seu interior

Te invadir

Me esconder aí dentro

E procurar as partes que sou eu em ti

Sabe, me perdoe por desabafar assim

Mas essa noite congelou no tempo

Ela nunca vai acabar

E por que ela deveria acabar?

Tu me pergunta essas coisas mas já sabe que estou quase me torturando aqui

E mesmo assim repete a pergunta

Ok. A noite deveria acabar só por eu não estar forte o bastante para enfrenta-la

Porém…

Isso é tão pequeno, não é?

O que eu sinto

O que me queixo

O que me nego

O mundo continua girando

E as pessoas prontas para a evolução

Entende por que não posso deixar de nadar?

Eu assumi essas responsabilidades

E mesmo que não me escutem tão cedo, eu continuarei falando, nadando, devastando continentes

Estou vivo pra isso

Pelo oceano que me consome

Pela imensidão do vazio em mim

E entre possibilidades de viver essa noite infinita ou o seu encontro

Fico imaginando nós dois

Nossa apróximação

Me espere, por favor. Estou me recuperando

E se a noite não acaba… se prepare: darei um ponto final nas coisas

Aguarde esse anoitecer infinito

Pois agora o jogo virou

E darei voz para este coro

Estou indo te agredir

Sou agressivo

Escute

A noite não tem que acabar

Mas essa escuridão dentro de ti, termina agora

Não duvide da minha força vital

Se a noite não acabou até agora, não acabará tão cedo

Eu grito bem alto

Me escutem por bem ou por mal

E… boa noite

Que ela nunca acabe para vocês também

Até que eu dê risada de suas tolices

Ou aprenda a paciência de ajudar pessoas

Mas daqui eu não sairei até que tudo mude

A eterna noite sou eu

O mar revolto

O céu escuro

Eu queria uma poesia no ouvido agora

A sua voz narrando o futuro para mim

Seu toque no meu rosto

O carinho na minha barriga

Obrigado pelas ondas

Eu aprendi a nadar

E estou gritando mais alto do que nunca

Me ouvem lá do outro lado das águas, onde já é dia

Vou me mover até lá

Mas a noite acaba aqui. Escutem minha canção!!! Ela fala de amor

Ondas

Ondas

Ondas

E eu já cansado encontro o dia raiando

Que alívio

A noite se perdeu

E eu sigo em movimento

Me transformei em dia

Estou enxergando tudo.

Igor Florim

Publicidade