
Todo dia é uma morte diferente no mundo
Os dias são assim
Eternos recomeços, constantes falecimentos
E daqui do alto isso é tudo o que eu sinto
O meu corpo quente, o vento gelado, a cabeça fervendo
Todas essas estrelas que aparecem nos céus
O que tem lá?
É bom estar sozinho
Busquei isso o dia inteiro mas trabalhei sem parar e quando estacionei, o dia estava se finalizando
Estou pensando em mim
Em você
As coisas mais lindas da vida são as que apenas sentimos
E ficamos lá – sentidos
Eu me magoei com a sua fala áspera
Suas palavras agrediram tudo o que eu sou e agora fico lembrando das falas do passado
De quando o seu sorriso iluminava o meu céu noturno
E as estrelas caíam em nós
Era o mundo despencando, gritando aos sete mares: Vamos colidir, vamos colidir!
E a colisão foi o meu coração parando de bater
Não sinto os impactos
Não bombeio mais o meu sangue
Estou apático da vida, trabalhando sem parar até que o meu corpo fadigue
Tudo isso para eu não pensar muito
Pois quanto mais pensei, mais pesei a vida em mim, me matando com a lucidez adquirida nas reflexões
Acho que nada do que vivemos foi verdade
Ilusão pura
E você lá – me empurrando ao devaneio
Esperam que eu desça daqui e revolucione o mundo
Mas me perdoem por isso… jamais irei descer do meu castelo
E de prego em prego sigo martelando essas paredes
Parei com tudo isso
O sol já está se pondo de verdade
Me deu uma dor no peito
Minha garganta fechada
Meu corpo fraco para a noite que começa
Eu queria chorar
Lavar a minha alma disso tudo
Mas nenhuma lágrima cai
Que agonia
Tudo preso dentro de mim
E eu lá dentro também
Com lágrimas prisioneiras em meu corpo fechado
Tudo isso para erguer essa fortaleza
Este foi o preço de me manter seguro demais
Livre de velhas carências
Eu queria gritar
Mas a minha laringe se fechou para o mundo
Não há voz nessa noite que começa
Eu não sei quando foi a última vez que olharam no fundo dos meus olhos e perguntaram se eu estou bem
Talvez por eu ter essa força toda
Esperam tanto de mim
Mas eu desejo que todos vocês se fodam
E sejam bem felizes nunca mais pensando em mim
Para que eu revolucione em paz
Este é o preço
Me olham daqui de cima
Ficam apontando seus dedos para mim
Dizendo coisas que eu não escuto
Mas que me atingem como os meteoros caídos dos velhos céus
Abriram crateras
Perfuraram os meus olhos
E as lágrimas ainda prisioneiras em meu corpo
Eternas confinadas
Eu queria um abraço bem forte
Que me fizesse lembrar de quem eu sou
Ou uma máquina do tempo que me fizesse voltar
Eu jamais teria te conhecido
E começo quebrando tudo por aqui
O martelo quente de tanto impacto
As paredes caindo
O cimento despencando
E eu cada vez mais próximo do chão
A multidão me atinge
Olham nos meus olhos
Querem me humilhar
Se eu ainda tivesse voz, gritaria nos seus rostos
Rugindo o meu nome
Mas hoje não tenho esse poder
Hoje não tenho esse orgulho
E por não conseguir mais voar, tive que ir andando
Enfrentando a cena da minha vida
Aceitando os olhares
Encarando de volta
Indo para frente
O meu castelo já não existe mais
Ele caiu
Quando eu era a Babilônia, chorei profundamente com a sua queda
Eu rezava gritando
E que a Babilônia não caia!!! Pois eu sou a Babilônia!!!
E caiu
Agora nem lágrimas eu tenho para derruba-las
Nem a brilhante voz me restara
Ainda me agridem com esses olhares
Acho que fazem de propósito
Ah!!! Vocês desconhecem o tamanho da minha ira
Aliás, você já foi vítima do mundo?
Sendo agredido por todos
Mas parei de ver deste modo
E a força me ocupou
A minha pele agora é um aço forte e viril
Estou pronto
O trovador solitário desceu de seu castelo
Nada mais existe para ele
Abandonou tudo
E hoje recebe a força de centenas de tigres para revidar os ataques que recebera
Mas a multidão também sou eu
Portanto não irei lutar
A força me permite ao luxo do não conflito, já que agora nada mais me abala
E sigo o meu caminhar
Todos já distantes, acanhados
Eu não sei para onde eu vou
Me perdoem por isso
Não construí a Babilônia como no passado
E mesmo se tivesse construído, declarei ruínas ao meu castelo
O príncipe nunca teve um palácio
A cidade precisa do predador
E ele sou eu
Indo atrás de demônios
Roendo o mundo até os ossos
Passos e mais passos
Eu sou essa violência toda querendo viver para sempre, mas não vivo quase nunca
É muito difícil viver
E ainda não perguntaram nada para mim
Talvez seja o mundo me dizendo que antes de eu ser contemplado com ajuda eu precise perguntar aos outros se precisam de mim
Mas como? Se até então eu vivia sem os tigres em mim
Porém tudo mudou
Agora que sou uma alcateia inteira
Essa multidão dentro de mim trouxe o que eu precisava
Força
Astúcia
Poder
Depois de abandonar as ruínas do meu reino, após ignorar a humilhação dos olhares
Para receber a opção do confronto e não precisar mais de guerras
Só revolução
Mais passos
Estou bem longe
Eu não sei onde vou parar
Me encontrei assim
Num constante movimento
Eu sou um tigre
Só mais um
Mas com muito orgulho
Tigre.
Igor Florim
como um ciclo!
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ciclos…
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Ciclo…
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Muito bom texto! Bela escolha de +palavras, boa narrativa!
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