
Hoje cedo eu saí da cidade e fui até o monte alto
Lá de cima a vida é tão diferente
A cidade distante despertando junto com o novo dia
O sol já aquecendo com seus primeiros raios
Essa noite eu não dormi bem
Acordei de vinte em vinte minutos
Foi um desespero
Não sei por que isso acontece
Minha cabeça cheia de todas as coisas, o cansaço vital, meu corpo que se arrasta para a cama e mais uma tentativa frustrada de sonos calmos
Do jeito que eu deitei, acordei um tempo depois
Ainda imóvel
Fiquei olhando o teto do quarto… as luzes que entram pela parte de cima da cortina… os desenhos luminosos no breu de onde eu durmo… e eu ainda lá
Tentando fazer tudo ficar bem
O tempo voou
Quando percebi o dia já estava raiando e eu que dormi tão pouco resolvi fazer o que eu faço constantemente: fazer ficar tudo bem
Mesmo cansado levantei a poeira da minha vida
Arrumei a cama
Vesti meu tênis
E fui lá pra cima
Eu me recuso em perder esse belo dia
Essa oportunidade de um recomeço definitivo
Eu me recuso
Então estou vivendo. Aos trancos e barrancos, vivendo
Foi isso o que eu fiz até aqui. E você?
O telefone mudo
Só eu falava
É uma apatia esse tipo de troca
A bem da verdade, eu não queria falar nem ouvir
Mas falei
E ouvi tão pouco
Parece que ela queria evitar esse diálogo comigo
Então que os desejos sejam feitos – não falarei mais contigo
Almocei na padaria da esquina no final daquela manhã
Foi bom conversar com os vizinhos, rir um pouco
Talvez melhor do que trocar essas palavras com a curiosidade que me ligou
Sinto muito mas não estou disponível para ti
Na padaria me tratam tão bem
Há uma pessoa que sempre me olha quando estou lá
E quando cruzamos nossos caminhos, cumprimentamos um ao outro com belos sorrisos
Não sei por que mas hoje ao terminar o meu almoço, me levantei e segui até ele
Já avistei o seu sorriso quando me notou
E por instinto ou carência:
Te vejo lá em casa hoje depois do seu expediente?
E ouvi um sim junto com o mesmo sorriso
Porém dessa vez um espanto sem igual
Acho que era isso que precisávamos
Acho que foi por isso que nos olhamos por tantos dias
Ainda bem que deu certo, talvez eu ficasse internamente sem graça se isso não acontecesse
Mas por fim me motivou tanto
Fui correndo para o meu apartamento deixar tudo arrumado
E fiquei lá
Esperando
Esperando
Esperando
Era você tocando a minha campainha
Entre
E aí! Foi bom o trabalho hoje? Sinta-se em casa! Quer algo pra beber?
Ele chorou
Me pediu desculpas por isso, mas chorou
Eu perguntei se havia algo que eu pudesse fazer, ouvi um não
E então eu abracei aquele cara
Falei para ele chorar
Chore
Chore de verdade
Só pare quando tudo isso acabar
Ficarei aqui contigo
E me peça qualquer coisa que for te ajudar
Ele me olhou e sorriu
Pediu desculpas novamente
Parece que eu absorvi um pouco daquele caos durante o abraço
Porém as coisas fluíram melhor depois disso
Mostrei o meu lar
Conversamos um pouco e eu sugeri um passeio ao luar
Ele não exitou
Os passos eram lentos
A gente não tinha pressa
Eu ouvi os motivos por ele ter chorado quando entrou em casa
Absorvi mais caos ainda
E agora quem pediu desculpas fui eu
Sinto muito mas eu também não estou bem
Talvez tenha sido um engano te convidar para um passeio
Juro que você não é o problema, mas outro dia vamos mais adiante com o nosso encontro, tudo bem?
Me sinto fraco, sei lá
Me ligue depois, juro que tentarei mais uma vez te ajudar, mas agora preciso partir
Virei de costas
Andei
Acelerei
Corri
Abri a porta de casa e fui direto pra minha cama
Preciso descansar
Não consigo pegar no sono
Fico lembrando dele e no quanto eu não fui bom o bastante pra ele naquele dia
É tanta coisa
Juro que eu queria apenas ficar bem mas nem sempre estou
Então vou dormir
Fecho os olhos e nada
Viro, reviro a cama e os cobertores, e nada
Fiquei tanto tempo nesse fluxo que o dia logo irá nascer
Eu ainda não dormi
Não sei bem o que está acontecendo
Vou tentar descansar, acho que hoje não terei forças para ir até o monte alto da cidade… ficarei por aqui mais um pouco
E tudo passa tão depressa
Essa dor que não passa
E eu agindo assim, não tenho pressa
Mas eu não vou desistir
Ainda quero ter esse belo encontro
Pedirei desculpas se for o caso
E se ele não aceitar, entenderei
Voltando para a minha casa todos os dias
Rindo quando a risada surgir e me deitando cansado quando nada mais restar
Eu não desistirei
Mas sairei dessa
Meu telefone tocou a noite toda
Não era ninguém importante
Acho que ninguém mais importa
Só a minha família
Não vou atender esses números aleatórios
O mundo que se exploda!!!
Eu quero paz
E a noite acabou
O dia voltou com força
Me falta um pouco de força
Abri a janela usando poucos músculos
Quase nenhum esforço
O sol me mata
Eu não estou pronto para esse dia, preciso fazer alguma coisa
Juro que quando me decidir da ação, volto ao meu exercício vital de viver
Mas até lá, estarei me recuperando, com muito carinho a mim
Numa dessas tudo muda
E quem sabe assim, eu mude junto. Por inteiro.
Igor Florim
Esse texto tocou o meu coração | obrigada !
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Que lindo…!
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Sempre me intriga sua forma de pontuação.
Diria que jamais experimentarei escrever utilizando esse estilo pelo simples fato que precisaria de uma vida toda para aprender a fazê-lo.
No entanto Igor, prefiro textos mais curtos. Devido a sua forma de escrever, eu acabo por devanear durante a leitura e tenho que voltar trechos, mas talvez seja essa pressa que todos hoje temos.
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acho muito interessante quando leitores comentam sobre a forma que eu escrevo! de fato eu excluo a pontuação final dos verso para dar maior liberdade ao leitor… para soar mais próximo de algo falado! este é o conto poético! a fala em primeiro lugar, assim como no teatro
gratidão Rícard!!!
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