
Todas essas luzes me assombrando fortemente os olhos
Parece até que o tempo é uma passagem dimensional
E o embarque para a viagem sempre lento, racional, bruto
O tempo passou por aqui
Hoje estou na estrada
Tanta coisa aconteceu
E ainda continuam nos perseguindo
A rota não é a das mais seguras
Essas luzes são portais interessantes
Parecem pessoas vindas de um passado ou futuro dizendo: Ei! Estamos vivos! Isso somos nós existindo! Não peguem essa estrada – mas se joguem no escuro! As luzes estarão por lá
E iluminam as nossas janelas
Quando tudo isso terminou, cheguei ao meu destino
É incrível estar vivo
Acordar num belo dia e olhar para tudo e todos e ir aos poucos agindo, transformando o mundo, construindo novas torres
A viagem foi longa, confesso
Mas é invicta a transformação que ela te traz
E os olhos de quem descobre o mundo são olhos transformados
Há coisas que custe o que custar você nunca mais se submete
Custe o que custar
Tudo isso depois de uma viagem
Talvez era lá que você verdadeiramente estava
Naquela praia
Naquele sítio
Porém hoje eu voltei pra casa. Basta de todo o resto
Daquela possibilidade de viajar, de ir para longe
Estou agora bem perto de mim. Estas são as minhas coisas…
Não são lindas?
Eu voltei definitivamente diferente
Muitas coisas se tornaram sólidas em mim, talvez depois de tanto pensar
Então jamais deixarei que a vida me consuma
Aceito que ela me agrida mas não deixarei de ser o que sou
Portanto pense duas vezes antes de pedir a minha opinião
Pois não serei conivente com o que você diz
Não nasci pra isso
E digo mais
Nunca contem comigo para entregar aquele marujo que vocês chamam de corrupto
Eu não farei isso
O argumento de vocês é raso demais
Na verdade, não há argumento
Presidente eleito sem debates presidenciais
O navio se tornou esse marasmo
Estão com fome?
A minha comida vai dar só para mim, me desculpe, doei todo o resto
E o que sobrou, sente-se, vamos dividir
Já estou na minha janela vendo o navio partir
Ele está tão longe… e eu aqui… tão perto das minhas coisas
Elas são tudo o que eu sou
Porém, não me encontro mais nelas
É uma tristeza admitir isso… a revolução que me ocorreu
Mas sim. Você não me reconheceria
O navio se foi
Resta agora uma longa vida em meu nome. Fique tranquila, eu não falarei nada sobre ti. Eu falo apenas em meu nome
Viva a sua mediocridade, não derrubarei o seu véu, ele é todo seu
Porém na minha vida isso será diferente, você sabe disso
Aquela coisa hipócrita
Sim, a própria hipocrisia
Me desculpem mas ela está dentro do navio que some diante aos meus olhos
Então não vejo mais nada
E dessa carga eu não vivo
Sou o marujo que pula em alto mar mas se salva
Jamais deixarei que me impeçam do nado, do salto, do deslocar-se
Sou esse ser
Bato os meus braços e me livro disso tudo
Nadando
Empurrando as águas com meus pés
Encontrando novas ilhas
Me servindo de frutas
Mas por favor, não ousem contamina-las com essa velha hipocrisia
Pois disso eu não me alimento mais
Cortem meus galhos, arranquem meus frutos, derrubem meu tronco
Mas minhas raízes estão bem profundas
Ninguém conseguiria arranca-las
É o que eu sou
Há razões dentro de mim que jamais deixarei de acreditar
Mesmo que não sobre um só homem convicto nessa verdade
Pois sempre restará a mim (com minhas raízes em todos os solos do mundo)
O resto não importa
Sou um livre marujo de navio
E agora que estou em casa, serei essa liberdade toda em progresso
Enraizando o mundo todo
Vigiando o mundo pela janela
E rindo bem alto… afinal, espero que os meus vizinhos me escutem
Gargalhada pura.
Igor Florim