
Fiquei no escuro a noite inteira
Andando pela casa, acendendo alguma vela
Eu sou o tipo de cara que esquece do seu rosto mas continua lembrando de coisas que você dizia
A noite era um breu e nós dois sobrevivendo juntos
Foi a chuva mais sinistra dos últimos anos
Achamos que a casa iria cair
E entre nós dois o céu desabava
Nos agredimos muito nos últimos tempos
É claro que me lembro do dia em que te conheci
Você ainda me olha do mesmo jeito
Não sei onde erramos
Já te disse que quero reformar a sala? Não faz sentido as coisas do jeito que estão
Quero mais almofadas, tapetes, cadeiras, sofás
Tudo bem. Não falarei mais nada
Contemple a sua paz que tanto deseja
E um temporal assolando a nossa cidade
Era impossível escutar os nossos próprios barulhos dentro da casa
A chuva que agride os meus ouvidos
A escuridão que inibe a nossa casa
A tristeza que é quando um amor acaba
As cortinas fechadas que impedem a nossa visão. Esse granizo da chuva vai estourar os vidros das janelas
De quem foi a ideia de vir morar aqui no alto?
Parece que a terra quis encontrar os céus
E nós dois construindo uma casa nesse lugar
Eu desisto por hoje
Lute sozinho, se é o que quer
Eu desejo que a casa desmorone
São muitas coisas erradas para uma só vida, eu desisto disso
Prefiro que desabe e eu acorde para apenas recomeçar
Vou dormir
Fique aí e contemple todo o seu desejado silêncio enquanto o mundo grita de fora pra dentro
Te atingindo em cheio
Cansei de não te ouvir
E eu não vivo sem falar
Os relâmpagos me lembram de quando chovia e eu criança, na cama acordado, escutava atento todo o temporal
Eu achava que nunca iria dormir
Sentindo o quente das cobertas, a brisa gelada que entra pelas frestas da janela
Sempre soube o que aconteceria em seguida
E enfrentava mesmo assim
Só para confirmar que eu estava prevendo o futuro da maneira correta
Me cobri profundo nessas noites
Arrastando com as minhas mãos os cobertores que caem da cama e se arrastam para os reinos profanos da escuridão dos nossos quartos
Em baixo da cama um travesseiro perdido, sombra diabólica
Nos meus pés um cobertor inteiro embolado, volume sinistro
A escuridão narrando os terrores noturnos de um quarto apagado
E eu criança, com medo, porém olhando mesmo assim
O meu silêncio falava tantas coisas
Eu nunca te encontrei
Combinamos de nos encontrar ao reencarnar mas não te encontro
E então a chuva finalmente termina
Uma hora a chuva sempre termina
Acho que pegarei no sono em breve. Vou fechando os meus olhos, desapegando do peso de estar acordado e quando vejo eu não paro de voar
Posso ir para qualquer lugar
Voando
Cantando
É isso o que eu sou
Essa liberdade toda.
Igor Florim
Há gostoso mesmo seria se permitir ser molhado pela chuva que lá fora caia , prevendo que o amanha chegaria e falta desse frescor da água se derramando em seu corpo seria um desatino ao arrependimento. mas temos medo da chuva como já dizia o poeta ….
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linda imaginação sobre o conto! de fato, a chuva teria lavado a alma dos dois… mesmo que molhado demais ou feridos por um raio porém nada tão fatal quanto o clima dentro da casa
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“E então a chuva finalmente termina
Uma hora a chuva sempre termina”
Deu pra sentir o cheiro da chuva lendo.
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Show!
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fiquei sem ar 💕 // amo teu trabalho com as letras
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Demais!!!!!!!!
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