Dizem que o amor sempre acaba mas ah, se me dissessem outra coisa!

O dia de hoje foi um dia estranho. As horas passaram mas junto uma angústia no peito. Eis que estão cantando Belchior na casa ao lado e eu como novo morador da rua, também cantarei bem alto como se nada mais me restasse a fazer

Meu corpo vibrou essas notas

Para que notem a minha voz

Estou cantando bem forte para alerta-los de que amar é bom

Essa casa ainda é um templo inteiro inexplorado

Hoje passei o dia todo sem você ao lado, essa solidão me faz ficar na janela olhando o movimento da rua

A bem da crua verdade, não há mais ninguém para estar ao meu lado desde o dia em que eu acordei e todos se foram

Peguei minha mala e também me mudei, olha só que reconfortante: pagar tudo na mesma moeda

Já que não me tem por perto, não os tenho também

Que loucura é a solidão, tão quieta, tão individual, tão anônima mas nada silenciosa

Talvez essa casa nova seja um recomeço. Acendi uma vela para Deus hoje cedo e ainda queima no corredor escuro

Queria que um bom anjo viesse saudar o meu lar, me contar novidades espaciais, fofocas de outros planetas e quem sabe um novo caminho para acreditar

Anjo, me ajude nesse recomeço tão preciso

As asas batem no meu quintal

Querem que eu dance lá fora

Eles são alados igual ao meu espírito

Rindo bem alto, escutando Belchior ao fundo e o gramado da minha nova casa amparando os meus pés descalços

Note como eu corro, pulo, salto

Mesmo assim tão morto, nulo, encaro

Esse é o risco de se viver lúcido demais

Querem que eu me prenda numa televisão, não entendem nada do artista que eu sou

Não estarei alienado

Sigo o bailado xamanico dos anjos no meu novo quintal

Note como eu sou um jovem feliz, sentimental, livre das perturbações dos vampiros do passado

O preço foi ficar só

Longe de todos eles

Para então me mudar para a sua rua, encarar esses demônios, voar com os meus anjos e quem sabe, acordar cedinho amanhã para ser feliz novamente

Seu nome está escrito no muro da sua casa, no final da minha rua

Vejo essas coisas e noto toda a vida ao meu redor

É assim que eu não paro de tentar

Meu amor, se um dia você pensar em desistir, feche seus olhos com muita calma

Note todo o universo na escuridão dos seus olhos fechados

Quem sabe surja um belo sorriso de recomeço

Nunca tenha medo de recomeçar. E assim fui eu – abrindo a casa, trazendo as caixas da mudança, limpando o chão, tirando o pó

Foi sozinho que eu encontrei o meu novo lar

E ainda não tenho muitas novidades para dizer. Nada estelar fofocado pelos anjos, nem descobertas curiosas no meu novo lar… tudo em branco

Esta é a solidão

A eterna mudança

A incompleta casa vazia

As caixas por abrir

Quem sabe um dia.

Igor Florim

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