
Talvez seja na escuridão que eu melhor me compreenda
Aquela solidão toda, a pressão para acelerar o meu carro e encontrar o seu rastro
Tudo muito calculado
Hoje cedo me ligaram querendo saber se eu estava bem
A resposta é sempre a mesma – sim, tudo certo
E não importa o quanto liguem há coisas das quais eu não confesso
Pelo menos não assim
Mas fiquei parado, refletindo sobre ter você do meu lado
E na vida é sempre um dia de cada vez
Acho que começo a sentir que você esteve por aqui
E sigo acelerando
Alguém me ajuda a estacionar? Talvez seja a hora de realmente parar, seguir as pistas, falar em rimas
Note o meu bom humor
Ninguém me ajudou nisso
Sinto que ao escrever sobre o amor, todos que leem pensam que estou falando dele próprio
Mas essa propriedade não me cabe
Esse é o ideal romântico, aquele que é só em sonho onde aparece, beijando, amando
Mas na vida real não é assim que acontece
Existem jogos perigosos entre dois amores
E isso tudo só me enfraquece
Esse ano eu aprendi o que nos outros anos eu tanto relutei – ser solo
Tramar o meu rumo próprio
E é sempre assim, ninguém aparece pro solo de outra pessoa
Querem sempre o mesmo palco, nunca só contemplar
O artista que eu fui agora se vê bem diferente
Foi quando notei a ausência de tudo o que havia na minha frente, aquelas pessoas falsas, aqueles amores corrompidos
Mas para mim eu tenho sido um belo amigo
E o dia só irá se iluminar mais ainda depois de uma longa escuridão
A noite gelada, nenhuma vida
Voltei para o carro
Os sinais que você deixou pelo caminho não foram claros
Da próxima vez me ligue e diga tudo em alto e bom som
Quase me esqueci da sua voz
Não tenho mais tempo a perder, voltei para o carro mas sem você
Fechei as janelas, liguei o rádio, deixei o ar bem gelado e segui o meu rumo
Essas estradas são um absurdo
Não há ninguém por perto
E se eu morresse num barranco? Sem querer não conseguisse dominar a máquina que me carrega
A vida é esse sopro, definitivamente não há regras
Só sufoco
Mas hei de acelerar profundo para me livrar desses encostos
Eu quero é um novo rosto na minha frente
Alguém que me chame de repente para algo novo
Cantando no meu ouvido aquilo que você, meu amigo, só canta no banho
Estarei de olhos fechados vagando pelo seu ritmo
Porém pelo impacto talvez eu acabei com o meu carro
Não consigo me lembrar
Fechei os olhos, pensei que essa dor toda iria passar
Mas há muito para se fazer agora
E vocês sabem, eu nunca irei desistir
Preciso voar, partir, recomeçar mas bem aqui
Quero que todos vejam o quanto eu morri para então renascer, feliz, calmo, solo
E deixar tudo florescer, os amigos por perto, meu amor cantando no meu ouvido
Tu sempre foi um bom amigo, apenas eu que não estava bem naquela época e muito menos fui o amigo que te interessa
Eu me demito
Dos velhos trabalhos, dos empregos malucos, de tudo isso – eu me demito
Agora que não tenho mais carro para acelerar
Mas há tanta coisa nova por aqui e tudo o que eu vejo é recomeço
Então que a vida aconteça, eu aceito recomeçar
Estou cantando naquele bar da esquina
Eu só preciso de dinheiro para me alimentar
Eu sou a rima.
Igor Florim