Acho que não quero te dizer nada hoje… sobre esses assuntos todos que tenho vivido

Nós dois aqui, amigos, esse ar gelado dessa noite que começa

É muito bom saber que tu me ouve sem pressa, que tu está aí parado, atento na nossa conversa

Porém hoje eu não quero dizer nada disso

Nenhum assunto lento ou rapidamente lido

A bem da verdade eu gostaria de virar a página, falar de outra coisa

Trouxe alguns biscoitos de goiabada que comprei ontem

É da marca da raposa. Há tantas coisas novas surgindo que eu me nego adiar a minha vida, meu amigo

Tudo o que posso fazer, o alcance de tudo que eu digo

É triste demais aceitar a morte das coisas antes de terem enfim morrido

Estive passando em frente ao hospital que eu nasci

Quase não passei daquele dia

Mas aqui estou, pensando em agora ter os meus próprios filhos, construir a minha família unida

Já escolhi alguns dos nomes

Estou lutando para juntar dinheiro pra eles, meus filhos cantantes

Construir um belo abrigo, surfar em família aos sábados e domingos

Fazer muita música em conjunto

Inventar uma nova rima de adulto

O meu lar

Acho que estou fugindo do assunto que me atormenta

Porém a vida é tão isso

Essa fuga

Fico observando a vizinhança daqui da região

Todas essas casas iluminadas, todos jantando em seus lares, derramados no sofá após um dia cansativo

Fazendo o trabalho doméstico na hora que dá

Às cinco horas da manhã eu renasço

Acordando para a minha vida, relembrando tudo o que eu faço

E indo lutar mais uma vez

Meu amigo, hoje isso é tudo o que eu tenho pra te dizer

Todo o resto, aquilo tudo que me sufoca, deixarei quieto

Não tenho mais forças para errar outra vez em vão

Essa é a minha atual situação, descansar hoje a noite para um próximo ritual de trabalho

Recarregar a minha vida

Encontrar uma nova saída

É assim que eu não vou mais me afogar

Deixando passar aquelas coisas pesadas

Ignorando o passado e pessoas sem graça

Vivendo a minha vida

Escrevendo cada linha

Obrigado meu amigo, consegui renascer nesse diálogo

Por tudo pra fora, pontos finais para as coisas do diabo

Às cinco horas da manhã eu renasço

Estou pronto para a minha vida e para todas as coisas que eu faço, não é fácil viver assim

Um dia após o outro, essa montanha de sentimentos internos que quase me deixa morto

E nesse quase, eu brilho

Trilhando o meu caminho

Estou tão lindo

Andando

Fugindo

Vivo

Um solitário dançarino.

Igor Florim

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