
Na sexta-feira eu vou me mudar
Talvez atravessar quem eu sou e chegar num lugar bem velho e intocável
Talvez vou desbravar o mundo a partir desse ponto
Encontrar quem eu fui em vidas passadas, escrever um novo conto
Eu tenho muita coisa pra fazer
E a lua se armando, subindo, gritando ao mundo humano: note tudo o que eu sinto
Dos enigmas da vida, o mais curioso foi o de te encontrar
Observar a sua leveza e o quanto você festeja por ser quem é
Exatamente como nasceu e de onde veio
Eu estou cansado de mudanças tolas
Quero partir para desbravar, bater no peito, gritar aos vizinhos todo o meu conceito de ser quem eu sou
Sempre aprendo com as pessoas
Note a minha aparência
Reconheça os meus traços humanos expressados nessa vida
Sou tão jovem
Talvez eu nunca vá morrer
Talvez eu esteja poético demais nessa afirmação
Logo eu
Que morri tantas vezes
Mas nenhuma morte me levou, renasci, gritei como se estivesse acorrentado, corri, fugi para um lago
Mergulhei profundo, fiquei sem respirar e mesmo assim contente, ágil, vivaz, subindo para respirar
É assim que eu me reconheço, é assim que eu me encarno
Encarando essa humanidade num verso parado de final de noite
A água estava tão gelada mas eu só notei quando subi para a superfície
Sou focado no objetivo inicial, afinal nunca houve mudança de planos
Neste ano estou sentindo falta de um amigo antigo
Ele que me instigou a escrever bem mais
E hoje já não escreve para mim
Tem vontades reprimidas
Quase não fala a minha língua
Bom, a noite está só começando
Foi ótimo tomar um ar no quintal
E agora que tomei tudo para mim de tanto respirar, mergulhar, correr, enfrentar
Bater
Bater
Bater
Não me permitir apanhar
Eu cansei de violência
Bati
Bati
Bati
Mas dessas defesas eu não uso mais
Note o que o medo nos faz
Preciso trabalhar mais um pouco
Selavi veio me ver
É o meu jovem gato
Em breve ganhará um irmão Pitbull
Eu observo os caçadores de ratos
A lua me nota toda noite e eu parado, refletindo essas besteiras, cantando a noite inteira
Ela gostaria de participar
Entoar seu canto lunático
Pontuar sobre o amor no meu peito e tudo o que eu faço
Ela queria a minha ajuda
E eu perdido numa rima fula
Cantando aos céus essa dor profunda
A lua me alertou dos próximos amores vagos
Mas meu bem, se for amor não será vago demais
Selavi, vamos para dentro
Venha meu filho. O que é isso que você está mastigando? Onde você achou?
Cuspa, é lixo
Assim como a lua tenta comigo, eu tento ser o seu amigo
Quando está frio ele arranha a porta do meu quarto para dormir em baixo das minhas cobertas
Quase como enterra-lo em algodão
Fica parado a noite toda, até que acorda e resolve me encostar
Humano, me esquente
E é tudo o que eu faço, esquentar esse meu índigo gato
Botar fogo no meu quarto
Iluminar todo o meu bairro
Mas tudo pela arte, galera
Ninguém se machucou nessa cena
Note o meu belo recomeço
Espetacular felino de texto decorado
Sabe muito bem como me emocionar.
Igor Florim