
Eu ainda vou sair daqui
De obra em obra trabalhando, na ocasião um então ex-ator de teatro, arquiteto quase formado, artista dos seus traços
Eu estive rindo de todo o mundo, seguindo com o meu trabalho, ampliando tudo o que eu faço
Não durou meio ano, estava em cena novamente
Se tu quer um mundo que te entenda, se reinvente, trabalhe essa sua velha mente, neurótico louco
Cantei bem alto naquele crepúsculo repetido, aquele dia cansativo, eu não preciso nunca mais disso
Voltei para casa
Reescrevi a última música criada, depois de tanto trabalho eu compreendi de tudo o que eu falo
Aqueles estudos sofridos, é difícil esperar o momento certo das coisas, observar o tempo se deslocando sem roupa
Pelados
Riacho abaixo
Tudo é sempre o que é
Falei alemão com um antigo amigo
Ele se foi sem ser honesto comigo
Mal sabe de tudo o que eu passei sozinho
Notei que sou eu o meu amigo
Acordei por instinto, recomecei no meu ritmo, sou legítimo comigo
Foi bem difícil o primeiro dia, os novos costumes, o reestarte sofrido
É difícil ser justo consigo
Respeitar seus motivos
Confiar em um novo amigo depois disso
Hoje é segunda-feira e pensar em ti um dia desses já acabou comigo
Assim resolvi me reconstruir
Vim até Paraty e desejo nunca mais sair daqui
Sei que São Paulo é logo ali mas foi aqui que eu investi
Vendi minha velha casa, um também arquiteto que constrói algo assim do nada
Com a mão toda quebrada abri sozinho uma estrada nessa mata
Vim cantando pelo caminho todo, uns amigos vinham florindo, plantando sementes, falando da gente
A minha planta preferida é a Palmeira Juçara
Hoje queremos só nos divertir no meio dessa mata que chamamos de casa
Eu vim também reconstruir
Cachoeira violenta e seus romances quentes
Tudo é tão grande que na vida às vezes esquecem da gente
Um no começo do riacho
Outro lá pra baixo
Quase afundando mesmo tudo sendo bem raso, eles mergulham profundo, mudam de rumo
Escrevem quem são
Se libertam em todas as suas vidas
São os humanos que em si acreditam
Veem uma única saída
Amanhã o dia será tão lindo quanto ontem foi comprido, o meu inferno pessoal parecia contínuo, impreciso
Fiquei relembrando do meu passado, do que fiz para chegar até aqui, nenhum tijolo empilhado sem mim
Sei de tudo o que eu fiz
E o que não fiz, não foi só por mim
Carreguei muitos comigo
Chorei mesmo sorrindo ao falar disso
Esses cantores do vale sumidouro são os mais belos do mundo
Vibram belas notas com versos absurdos
São lindos em absoluto
Recomece
Amanhã será um novo dia
Marte não tem pressa
Deixe o fim do mundo de lado, mude a sua conversa
Planeta vermelho que se mostra no céu
Os humanos se reinventando, voando
Caíram os velhos amantes
Se acabaram riacho abaixo
As águas fluindo
Aqueles dois se amando
O mundo é tudo isso
Siga sempre o seu instinto.
Igor Florim