
Pensei muito todas as noites e sabia que nada seria fácil, temperaturas baixas, ânimo alto
Acordava no dia seguinte, focava no meu assunto de vida, trabalhava nas coisas que constroem pedaços desse meu mundo, me ilumina, é assim que a vida me imuniza
Lembrei de tudo
Estou saudável por dentro, vivo num sonho do mundo
Ser quem eu sou, falar sobre qualquer assunto
A temperatura caindo na cidade, as luzes acesas e essa lua que nunca está cheia
Talvez esses dias não estejam fluindo bem
O tempo quase parou
Sigo dando outros passos, atravessando a rua, entrando em carros, acelerando no trânsito e o seu cheiro na minha memória soa como um velho aroma, uma música aos prantos, o som que só o violino derrama
O tempo passou mais um pouco
Sigo para frente, andando, a noite caindo, pessoas falando, será que estou sozinho?
Esses olhos me procurando
Me sinto num filme constante
Outro dia terminando
Essa lua brilhante
Fui paquerado na rua
Já desapeguei de pessoas cruas
Só consigo amar se for por inteiro
Andando tão só
A minha rua tão paulista já foi a Itinguçu da ZL depois anos só na ZO
Tentei te dizer todas as pistas, meus lugares favoritos, minhas partes criativas
Me fechei por inteiro pra essas vazias entrevistas
Só aceito me entregar se for pra fazer direito
Talvez amanhã tudo mude
Um dia eu estive solteiro
Muitas vezes estive bem só, em silêncio, cantando baixinho de peito
E nisso tudo me encontrei, com medo, receios e um novo dia por vir, um novo ano inteiro
O tempo se fechou ontem por aqui
Mas hoje o dia é frio e de céu aberto, ventos ligeiros
A noite caminha para o ápice lunar
Querem que eu os encare
Abri bem os meus olhos nessa fase
Olhei pra sua carne, pras gorduras do seu corpo inteiro
Beijei cada parte
Amei aquele corpo com todo o meu peito
Libertei aquele sujeito
Queimei aquelas inseguranças com beijos inteiros
Esse é o meu jeito
Namoramos durante décadas
Casamos, montamos uma adega completa na nossa fazenda em vila velha
Eu amei esse sujeito
Fui sincero
Não teve jeito
Só restou de pé esse momento atual, essa noite de luau avançando, liguei para os meus amigos e os assegurei que as bebidas estavam chegando comigo
Cheguei sem meio termo, fui logo me entregando
Fazendo drinks, aceitei o outono e mergulhei na piscina gelada desse outro amigo, o tal fulano
Estou só
Mas sigo sendo humano
Não, eu não desisto de nenhuma dessas coisas
Esse ainda é o meu melhor plano
Nunca mudei nenhum sonho
Estou prestes a chegar
Modificando um ser humano
Me libertei inspirando os amigos com o meu velho e único plano
Estar em festa
O sumidão é sagitariano
Se respeitar por inteiro
E essa noite é tudo o que interessa
Amigo sujeito, viva bem onde estiver, sigo para frente com quem comigo veio
Estive contigo
Tu não reconheceu o meu jeito
Tudo muda
Eu escutei bem cada um dos seus conselhos
Tudo acaba
Já não lembro nem dos seus defeitos, qualidades, já não lembro de nada
E se um dia tu me amou, daqui do futuro não reconheço mais nada desse amor atemporal
Tudo termina
Aquele último encontro, aquela noite também tão fria
As flores que comprei para ti no dia seguinte mas nunca te entreguei
O próximo encontro nunca chegou
Flores apodrecendo, eu desistindo de ti num processo bem intenso
Um dia esses detalhes estarão na sua busca, no seu campo de visão
E eu bem distante
Estou há mil anos luz desse seu lugar
Te arrastei para cá
Você resolveu retornar
E pra mim restou apenas continuar, seguir em frente, procurar por boa gente
Mas não sei quando vou encontrar
Nesse momento atual apenas sinto frio, nado a braçadas na piscina desse quintal, pessoas dançando ao meu redor, pedindo o meu follow no instagram mas essa moral eu não vou dar
De agora em diante conquistem o meu amor, cansei demais de tanto amar
Apenas nado
Agora sim sinto calor
É disso que eu falo
Um sagitariano nato.
Igor Florim
Sagitarianos são de muitos amores . Amar lhes é atemporal em um conceito geral , pq vivem de amor em tudo.
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Li como um filme daqueles que a gente assiste e quer entrar nele.
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Muito bonito. Note que eu não disse “nossa, que lindo!” ou “puxa, incrível”. Não, eu escrevi, o senhor verá, só “muito bonito”. Acho o “muito bonito” mais forte, mas direto. Gostei das referências sinestéticas à lua, ao frio, ao amor que se foi. A boa poesia começa e termina assim, por vezes. Não é que toda poesia tenha que ser sinestética, mas por vezes sim. Gostou de “sinestética”? Acredito eu e o senhor me perdoe se não for o caso, que o seu “poema?”, “crônica?” daria um magnífico início de um eventual monólogo para o palco. Já pensou nisso? Pois pense. Imagine: um palco expressionista, com móveis de um possível apartamento, desproporcionados, fora de linha. Música incidental cobrindo cada movimento do ator onde não houvesse texto. Rompimento da quarta parede, com o ator pedindo iluminação, dando orientações para onde deveria situar-se a luz, pedindo café (uma pessoa deve trazer o café) e conversando com a plateia (os diálogos devem ser livres, mas circunscritos. Não é porque se rompe com a quarta parede que devamos dispensar a quarta parede). É só uma ideia. Aliás, disse ao senhor que o texto é “muito bonito?”. Não? Deveria ter dito. Um abraço.
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