Te vi sozinho, lá fora, de noite

Fugindo das cobranças da sua vida, se aventurando numa volta

Queria te ligar e falar de todas as coisas que realmente importam

Abaixar a minha guarda, te amar pela mesma causa

Entrei num carro agitado

Desci do outro lado da cidade

A sua casa é logo aqui

E você já distante, vagando itinerante, semovente

Há tanto tempo já não existe mais “a gente”

Voltei pra casa

Te vi pela minha janela no terceiro andar

Vim escrever já que não posso te ligar

Olhei pras estrelas fingindo não me importar com você vagando ali

Talvez se torturando por não ter pra onde ir

Quando tu pensou em desistir, meu peito ardeu por ti, queria te amar por inteiro, te ensinar até os meus defeitos só pra aprender contigo tudo o que você pode me ensinar

Cada pedaço do seu peito

Meu bem esse mês tudo está tão difícil

O vento lá fora me causa um arrepio

Talvez seja medo

Tem dia que até eu mesmo me desconheço

Cadê toda a minha vida?

Não me pergunto mais sobre ti

Cansei de ter sido assim

Fechei a minha janela

Desci para a rua

Estou tentando ser forte e fingir que não me importo mais contigo

Talvez tentando reproduzir o quanto você me ignora

Mas saí em disparada na minha rua

Correndo, sem olhar pro lado

Passei perto de ti

Tu me chamando e eu fingindo que não te vi

Olha só como sou orgulhoso

Embora tudo isso durou só um pouco

Parei de correr pra você, talvez tentar te ver

Tiramos as nossas máscaras, não rolou nenhuma fala

Dei uns passos pra trás

Se é a minha ausência que você deseja, te deixarei ausente de me ter presente na sua vida

Voltei a correr

Ninguém tentou me impedir da corrida

Acelerei tanto que por várias vezes eu quase caí

Dessa vez eu tentei fugir

Me afastar de ti

É muito ruim não receber um abraço solicitado

Vou voltar pra minha casa, abrir bem a minha janela e olhar pro que interessa

Confesso que ainda não sei que coisa é essa

Tudo isso passou

Parei de correr

Respirei o vento gelado do terceiro andar do meu prédio

Não tem ninguém do meu lado

Talvez seja por isso que estou tão feliz em recomeçar

A liberdade faz da vida um momento sagrado

Descobrir quem irei encontrar, tudo o que está por vir

Resolvi primeiro me amar por inteiro

Respirando profundo esse ar

Em breve eu acho que a chuva cai

Esse cheiro molhado, não te vejo mais lá em baixo

Foi assim que eu te esqueci

Olhando para o céu, lembrando mais de mim

Na Vila Leopoldina em São Paulo, é sempre assim

Malucos vagando pelas ruas, vizinhos pelados se mostrando na janela numa cena toda nua

Acho que a vida continua

Amanhã eu vou correr bem cedo

Me livrar dos seus efeitos

E assim nunca mais vi você – não teve jeito.

Igor Florim