
Estive lembrando do que havia no fundo dos seus olhos
Porém o telefone de casa não para de tocar
Estão me perseguindo, querem me encontrar
E eu resistente, ocupado demais por instinto
Eu não quero ser o seu amigo, aceite isso
Suas ações todas ensaiadas… falou tanto de amor mas nunca amou em nenhuma fala
O telefone está fazendo um barulho horrível – alguém quebre este aparelho, interrompa este som
E as notas agudas com sagacidade perpetuavam seu barulho no bairro
A região ensolarada
O dia amanhecendo
Estou recomeçando
A ligação era um engano
Insisti para o tal fulano ligar com menos afinco, afinal não precisa de tanto
Desliguei por semanas os meus planos
Recomecei cantando
Só algo como deus para saber o quanto com a minha mente eu pensei
Não parei um só minuto
Calculando
Relembrando o plano
Parece engraçado mas agora meu telefone já não toca tanto
Talvez me esqueceram
Numa noite dessas eu atravessava a avenida paulista de ônibus – ouvindo música brasileira no fone, aquele vento gelado do inverno paulistano entrando pela janela, até nas últimas horas do dia as pessoas nos ônibus exalam pressa
Fingem não olhar para ninguém
Paulistanos amam dizer que estão “na correria”
Todos desceram desse ônibus, vou descer também
Acho que vou andar pela augusta, encontrar quem me procura
Recebendo novas mensagens no celular mas ignorando todas
É como se ninguém me escrevesse
Hoje a noite estamos indo dançar
Uma balada começando, outra fechada para um famosinho e o seu bando
Vou entrar naquela lá de baixo
Esse edifício alto
Luzes neon iluminando silhuetas
Salas gigantes, dj’s falidos tocando, álcool barato em todo canto, é maconha que as pessoas daqui estão fumando
Em poucos minutos outras dimensões foram aflorando
Encontrei vários amigos, seguramos um na mão do outro e fomos nos deslocando
Vamos para a pista mais descolada da cidade
Estamos iluminados e dançando
Roubaram o meu celular
Continuei dançando
Alguém liga no meu número! Antes da festa acabar eu o encontro, esse é o meu plano
Continuaram ligando
A festa ficou um silêncio
Eu e meus amigos perdidos em algum canto aqui de dentro
Descendo escadas, procurando a saída mas os meus amigos também não dizem mais nada
Meu celular estava no meu bolso mais perdido do casaco
Confusão instaurada
Eu não acusei ninguém
Alguém sabe onde fica a saída?
É bom que você se importe com a sua vida
Estamos perdidos e não, não somos ricos
Essa noite nunca irá terminar
Não estamos vendo mais ninguém nessa festa
Talvez seja porque mais ninguém nos interessa
Abrimos uma porta e encontramos velas acesas numa outra sala gigante
Não estamos entendendo mais nada
Alguém se lembra do que as músicas falavam?
Pois desde que o som parou, não escutamos mais nada
Pelo menos eu ainda sei quem sou
Mas não aguento mais essa balada finalizada
Esqueceram de nos expulsar
Ou estão nos perseguindo em câmeras camufladas
Ficou gelado aqui dentro
E ainda ninguém diz nada.
Igor Florim
Adorei o texto! Assim como adorei os demais textos que já li.
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seus textos tem algo que não sei descrever mas que inquietam .. e como inquietam os pensamentos ignorados !
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