
Chega um momento em que é estressante dirigir, não poder estacionar
E como eu nunca vou fugir, resolvi então parar, enfrentar essa noite de luar
Respirar, cantar, me recarregar
Não sei bem o que aconteceu
Por que tanto tempo em movimento
E o meu cabelo que até cresceu
Não sei quanto tempo estive lá dentro
Cidade escura, lua a pino, temperatura caindo e meu coração quase saltando da minha boca
Abri a janela e coloquei meus dois braços pra fora, fiquei olhando o desenho do piso, pensando que há poucas horas me agarrei contigo
Nosso beijo definitivamente aconteceu
Ardeu intensamente
Eu sou muito seletivo, sigo negando investidas mentirosas, falsos sentimentos, interesses na minha pessoa que sejam apenas carnais ou rasos demais
Mas tudo na minha vida é profundo
Evito piscinas com a água rente ao chão
Eu quero beija-lo novamente como nas últimas noites
Ouvir sua voz ardente falando bem no meu pescoço
Meu bem, quero te ver, topa um rolê mais tarde?
Por hora não
Mais nenhuma explicação
E eu estacionado naquele posto
Simplesmente amo esses momentos, quando mesmo com qualquer possível questionamento eu sei exatamente o que preciso fazer
Acelerei o meu carro mas nunca mais para ir te ver
Te encontrei no meu trabalho mas por hora vou ignorar você
Reciprocidade é retribuir profundezas ou silêncios por toda parte
Amei o meu ser como devo ser amado
A minha intensidade
O modo como deixo tudo claro, o meu interesse, minha sagacidade
A lealdade de ser verdadeiro
Um cara vivaz
Dias depois tudo mudou
Já não lembro bem o que aconteceu
Na verdade já se passaram anos
Telefone tocando com raiva, essa merda não para
Vou te atender
Oi
Quem é?
Lembra de mim, te beijei algumas noites, nadamos pelados numa banheira de mármore, conversamos por longas noites e trabalhamos juntos algum tempo
Sinto muito mas por hora, eu não me lembro de você
Aliás, que bom! Pois se eu lembrasse, que falta você teria me feito, afinal tantos anos se passaram
Mas é claro que eu o guardei no meu peito
Ele não sabe mas, são com poucos que eu saio
O escolhi a dedo
Amei aquele cara, não teve jeito
Amei os seus defeitos, sua risada
Ele não sabe mas, eu estava pronto para defende-lo como uma onça na primeira aproximação que fosse uma ameaça
E após o seu “não”, não lhe dei muitas palavras
Fiz como ele fez
Quer sair comigo?
Por hora não
Mais nada
Se eu já não tivesse sido amado de verdade, diria agora que o amor é uma piada
Mas se tem algo que eu acredito, é no amor e em quase mais nada
Parei novamente o meu carro quando resolvi atende-lo
Dessa vez abri a porta, andei do lado de fora, fiquei respirando, o luar esfriando meu corpo, vento gelado no rosto
Ouvido uivando
Meu bem, foi bom te conhecer
Não é sobre nenhuma vaidade
Acendi o meu cigarro, ascendi com vontade
Fui visitar o ritual de índios guerreiros
Libertei outros medos, me envolvi por inteiro
No meio da viagem, vi você
Senti saudade
Vi a sua intensidade, os seus medos
Espero que você seja feliz, seja feliz do seu jeito
Mais tempo se passara, vi até o ritual se acabar
Muitas pontas no meu cinzeiro
Te contei até os meus segredos
Ele passou do meu lado
Mas já nem me lembro o que eu falei
Você é um espírito velho por dentro
Me identifiquei com essa parte
Porém por fora, eu sou toda essa vitalidade, rejuvenescendo por vontade
Um jovem acelerando o seu carro
A lua sempre a pino nessa cidade
Mas ele nunca saberá de nada disso, fiz o que ele fez, poucas palavras para terminar o nosso caso
Foda-se o resto
Por hora, não te quero.
Igor Florim