
A escuridão entrega alguns medos, não tem jeito
A noite caiu. Nadei até tudo escurecer. Afastado da costa, nenhuma onda, meu corpo quase boiando, braços abertos, pernas para baixo e a respiração me equilibrando com pouco movimento
Estou gastando pouca energia porém o mais importante – estou pensando na minha vida
Fiquei encarando o modo como o sol vai embora
Ele nunca prometeu ficar
Enquanto eu nadava observando este crepúsculo, a água esfriava… correntes absolutamente geladas cortam os meus pés que nadam
Me sinto parte do planeta, aqui, no meio dessas águas
Foi escurecendo mais
Ficou difícil nadar em paz
Sinto que um dinossauro do mar vai puxar meus pés para baixo
A escuridão entrega alguns medos, não tem jeito
Nadei até a beirada da praia
Fiquei esticado na areia, até secar
Meu corpo agora em repouso, respirando, sem maré alguma para me pesar
Nadar é sempre uma guerra constante
E nessa batalha eu nunca vou me entregar
Procurei a lua mas não encontrei
Procurei estrelas mas… o céu está um tremendo breu
Não sei onde vamos parar assim
Eu estou sem ele
Mas é engraçado o modo como ele está comigo, mesmo assim
Quando eu paro… quando eu finalmente paro… se eu fecho os olhos é batata: com você me deparo
Mas há alguns dias isso não tem mais acontecido, acho que considerei amar as coisas que eu sinto
Na minha mente, em silêncio, assim – este eterno anoitecer sem estrelas, sem lua, sem chuva ou trovões
Sem você
Não me permiti pensar em ti o tempo todo. Tive o dia inteiro de tantas pessoas e coisas ao meu redor que esqueci da falta que você me faz
E há dias concretamente aceitei, hoje apenas tive sorte de ti me lembrar
Estou no processo contrário a paixão
É muita mentira para novamente em ti confiar
Acho que estou apaixonado por mim
Transferi esse sentimento todo para mim
Já consegui me recuperar
Levantei e fui acender a minha fogueira. Preparei ela bem cedo e ela ainda está lá
E a praia ficou toda vazia
Hoje sou eu que eu vou amar
Acendi todo este fogo
De longe conseguem me notar
Ficam gritando: Ei, saia da praia seu maluco, alguma onça ou jacaré estão a caminho de te matar
Mas não entendem quem eu sou
Sou aquele que sabe se cuidar
Me amar bem por inteiro
O fogo só cresceu, não teve jeito
Vi a chama aumentar
Ainda gritam sem receio: Estão indo te pegar
Minha chama iluminou o céu inteiro
É por isso que as estrelas e a lua nessa noite não iluminaram o céu deste mar
Nem deram as caras, já que iriam me encontrar
Fiquei cantando sozinho, do meu jeito
É assim que eu vou me libertar
Aonde eu bebo água, o jaguar espreita – eu o vejo, sou um caçador
Acendi o meu cigarro de artista, apaguei a labareda, segui o meu caminho
Sempre pronto pra me encontrar, preciso é me amar mais um pouco, essa cara maluco, que fala alto e é louco
Prazer, o que você disser que eu sou, de fato nunca serei
Está bem claro a minha forma
Não deixei nada por falar
São pelas palavras fortes de alguém que muitos vão se apaixonar
Mas ausência desse som, o silêncio, tom marrom, aquela apatia arbórea cor de madeira, sem lixar
Um aspecto omitido, escondido, este é o silêncio: Tu não arriscou nada pra falar
Matou sua parte mais bonita
Sua defesa
Seu argumento
Sua voz que consegue ser tão nítida
Não falou nada do que tinha pra falar
Terminei o meu cigarro, terminei de andar, cheguei no meu quarto, sem receio – nenhum bicho veio me atacar
Eu sou minha defesa e não, eu não vou me arriscar
O que eu me lembro desta noite é que ela não teve luar
Houve o tempo de ouvi-lo mas agora não teve jeito
Ele não veio
E mesmo se viesse, não vou agora te escutar
Você desceu no meu conceito
Eu não precisei nem deste luar para me emocionar
Me virei do meu jeito
Teu silêncio apenas tentou me machucar
Me curei nesse mar
Me curei em cheio
Na Praia da Baleia é onde meu coração está
Que saudades de nadar.
Igor Florim
Frase “Aonde eu bebo água, o jaguar espreita – eu o vejo sou um caçador” da música de Advan Haschi
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