Um dia eu sonhei que era livre

Acordei sorrindo

Paralisado na minha cama

Pensando – o que falta pra eu voar aqui também?

Mas no meu sonho essa reflexão não era necessária, pois lá eu sempre voei

Imbatível

Cruzando os céus

Fugindo do mau ou explorando o mundo astral

Eu sempre voei

E ao abrir os olhos o mundo era sólido demais

A parede gelada do meu quarto

Minha cama fria

O chão levemente molhado pela umidade da noite

O mundo escoando friezas por toda parte

E eu neste mundo. Sem asas. Um anjo caído, arremessado, despencando

Calculando como sair da minha cama

Mas sempre saí

Abri a porta do meu quarto

Atravessei o corredor

Passei pela cozinha dando oi para a minha família – ainda sem parar de andar

E cheguei até a varanda

Há um lugar nessa casa que é o limite entre o sol e a sombra. Exatamente onde eu posso sentar

Vim me esquentar

Debrucei meu corpo nos meus joelhos dobrados e abaixei a cabeça, fechando os olhos

Voltei a dormir

Sonhando

Voando agora num mundo quente de sol. Abrindo minhas asas, conversando com meus amigos mestres espirituais… tentando levar um pouco dessa lucidez para meu corpo racional

Nesse dia eu tinha dez anos

E era no astral que eu me absolvia do que o mundo julgava como pecado mas que na verdade, era apenas o que eu sou

Porém não era sempre límpido assim

Das vezes em que ia dormir muito atribulado da vida, frustrado, sem asas, triste, um artista que só havia explorado o canto e nada mais

Nessas vezes, muitos me perseguiam nos meus sonhos

Era um terror

Então eu simplesmente decidia acordar. Racionalizando e voltando pro meu corpo. Os sonhos me ensinaram muita coisa. Todos os que encontrei por lá, todos os voos, todos os planetas

Mas trazer alguma lucidez para a vida acordada, ah… isso é sempre bem difícil

Mas vocês sabem que eu não desisto

E durante madrugadas inteiras sem dormir, eu criança pensava, pensava, pensava (nada tão diferente das madrugadas atuais)

E nesses pensamentos eu me questionava se haveria um dia no futuro em que eu pudesse ser eu mesmo. Ficava imaginando se iriam sentar na minha frente e perguntar se eu estava bem

De repente pedindo para que eu discorresse sobre mim

Ou apenas me questionando sobre quem eu sou

Com certeza a resposta não agradaria o mundo ao meu redor

Mas nunca me perguntaram

Se tivesse perguntado, eu teria falado tudo

Nunca quiseram saber quem eu sou de verdade

Porém alguns anos depois disso, desagradei o mundo inteiro mas comecei a ser eu próprio

Inverti o jogo

Se não perguntam sobre quem eu sou, mostrarei com a maior vivacidade que eles já viram

Exalando a minha alma

Enaltecendo o meu ser

Não há libertação maior

É o que eu sinto quando estou voando

O vento no rosto

Aquele vasto horizonte que vejo lá do alto

As pessoas todas pequeninas no solo, os problemas se tornando insignificantes e eu livre

Cruzando os céus

Batendo as asas

Eu nunca mais parei de voar depois disso

Seja no mundo astral

Seja no planeta terra

Estou vivo para alçar voo

É quem eu sou

É como me manifesto

Há coisas que me machucaram muito e que jamais irei esquecer. Sem ódio, sem mágoas, sem rancor, apenas muita gratidão depois de tantos tapas da cara. Pois foram estas coisas que me alavancaram em um alto voo que duraria toda esta minha vida. Ah como eu sou grato pela vida. As dificuldades te movem. Enfrente-as. Voe.

Igor Florim

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